Uma audiência pública será realizada na tarde desta terça-feira (12/04) pela Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado para discutir a necessidade de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligará Campinas ao Rio de Janeiro. O requerimento feito pelos senadores Aloysio Nunes (PSDB-SP), Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES) questiona o fato de ser um investimento de grande porte em um único projeto, sendo que o País possui uma malha ferroviária insuficiente.
Além disso, os senadores afirmam que, em vez do trem-bala ligando os aeroportos de Campinas (Viracopos), São Paulo (Guarulhos) e Rio de Janeiro (Galeão), poderia ser desenvolvido um trem convencional, com custo 33 vezes menor.
Um estudo feito pela própria comissão do Senado, de acordo com Aloysio Nunes, constatou que um trem convencional entre Campinas e o Rio de Janeiro custaria R$ 1 bilhão, enquanto o TAV tem custo estimado de R$ 33,6 bilhões. “Imagine quantos milhares de quilômetros poderiam ser feitos com esse dinheiro. Países com uma densa malha ferroviária, como os Estados Unidos e Canadá, não possuem trem de alta velocidade. Por que o Brasil vai construir um se não temos nem trem comum de passageiros e precisaríamos no mínimo dobrar a malha de carga para melhorar a situação? Não consigo ter uma resposta do por quê o governo quer esse projeto.”
O tucano disse que a audiência será importante para trazer mais informações para o Senado analisar a relevância do projeto. “Qual o custo real, quanto terá de dinheiro público, a demanda esperada, já que não atenderá os trabalhadores e sim as classes mais favorecidas, pelas tarifas elevadas? Os sucessivos adiamentos da licitação têm gerado muitas dúvidas e precisamos saber se é algo seguro”, afirmou Nunes.
No requerimento, o senador Ricardo Ferraço afirma que “o trem-bala não mudará esta realidade (de insuficiência do transporte ferroviário no Brasil), uma vez que prioriza o transporte de passageiros e vai consumir, sozinho, metade do que será investido no setor nos próximos anos.”
O parlamentar quer discutir na comissão se, em um país de dimensões continentais como o Brasil, é viável esse tipo de transporte. “O custo elevado de um trem-bala entre Rio e São Paulo se deve à geografia montanhosa, que exige a construção de túneis e pontes em cerca de 50% do trajeto. E para que possa atingir alta velocidade, o trem precisa se deslocar o máximo possível em linha reta. Se fosse desenvolvido um trem de alta velocidade convencional, o custo poderia ser reduzido em dois terços.”
O ex-governador José Serra (PSDB) comentou o assunto ontem no Twitter. “O trem-bala custará aproximadamente R$ 40 bilhões. Dinheiro público que deveria ir para o metrô do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Recife, Goiânia.” E complementou: “O que é mais importante para o transporte de passageiros no Brasil? Fazer muito mais metrô. Com o dinheiro do trem-bala, seriam 400km a mais em todo o País”.
Foram convidados para discutir o assunto na audiência pública o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo; o superintendente da área de Projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Henrique Amarante da Costa Pinto; o consultor legislativo do Senado Marcos José Mendes; o consultor de transportes Joseph Barat, e o diretor do Instituto de Logística e Suply Chain (Ilos), Paulo Fleury.
Apenas o diretor da ANTT confirmou oficialmente a presença no debate, mas não quis comentar sobre as informações apontadas pelos senadores. O BNDES informou, pela assessoria de imprensa, que não fala sobre o TAV, mas não soube informar se o superintendente participaria da audiência. Os demais convidados não retornaram à reportagem.
rac
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